Longe vai o tempo em que o bolo-rei fazia parte do meu dia-a-dia, ou devo dizer da minha noite-a-noite?... Longe vai o tempo em que acordava sobresaltada com o despertador que rompia o silêncio da madrugada e interrompia o meu sono profundo. Longe vai também o tempo em que me ria das parvoíces dos meus colegas pastelerios, mas isso é um capitulo à parte...
Foram só 2 mesinhos que estive naquela pastelaria, não queria mais, foi só mesmo um estágio para ter uma noção mais practica da nossa pastelaria comercial. Afinal a rapariga andou por tanto lado a fazer coisas típicas de outros sítios e depois não me sabia fazer o belo do pastel de nata, a bela da bola com creme e o exlibris do nosso Natal o bolo-rei, pois então! Foi bom, foi mesmo muito bom. Custou, ah pois custou, mas o que aprendi compensou.
Já sabia, mas se tivesse qualquer dúvida tinha ficado esclarecida: este não é de facto o tipo de pastelaria que eu me vejo ou quero fazer. Não é que não goste, nem é por uma questão de perconceito, é simplesmente porque eu gosto de fazer coisas únicas e não apenas mais uma versão do que é feito na pastelaria da esquina de cima, ou na pastelaria da rua de baixo.
Até tive pena de me vir embora, sobretudo por deixar de conviver diariamente com aquelas figuras que trabalhavam comigo e que me brindavam com pérolas diárias de humor espontaneo. Os que conviveram comigo durante estes 2 meses chegaram a ir às lágrimas com as histórias que eu trazia de cada jornada de trabalho. Aquilo é que era mesmo "cada cavadela, cada minhoca"! Cheguei mesmo a andar com um caderno para ir apontando aqueles dizeres.
O "Farinha" passava a vida a cantar uma canção que tinha uma letra de um valor poético imbativel: "Tenho uma rata no sotão, perto da lata da tinta, todos os dias lá vou a ver se a rata já pinta, lalalalala..." Também ele me contava todos os dias a mesma anedota, também na mesma linha poética: "Oh mãezinha a luz também se come? Não meu filho, porquê? Porque ouvi o papá a dizer à criada -Oh Maria apaga a luz e mete-a na boca." Peço desculpa pela brejeirice, sei que isto é um blog familiar mas não resisti.
Depois havia o "Shôr" Hélio, que era o encarregado, o "Shôr" Arlindo que era "morcãoeee", o Ti Zé alentejano, o Gordo, o Pereira, que me dizia que tinha muita barriga não por comer todos os dias uns 7 bolos, mas porque estava grávido, dizia ele que o menino tinha até o bracinho de fora... Enfim... Havia ainda o Vitor decorador e o Vitor padeiro, que no meu ultimo dia de trabalho ligou para a estação de rádio que ouviamos madrugada a dentro e me dedidou o clássico do Clemente "Vais partir"!
Pois foi e parti mesmo...
Eu vivo sempre num mundo doce, o açucar, o chocolate, a baunilha & companhia Lda são meus companheiros de trabalho durante todo o ano. Mas no Natal esta doçura acompanha-me até casa e gosto de contradizer o velho ditado "em casa de ferreiro, espeto de pau".
Este ano devivo ao trabalho nocturno que arranjei e que claro está, durante esta época e muito por culpa da gulodice nacional, aumentou em grande escala, o tempo não foi muito. Com "dias" de trabalho que começavam às 21h e terminavam às 11h do dia seguinte quem é que tinha paciência para chegar a casa e encarar a cozinha? Só mesmo eu, certo?
Bom, obviamente que não fiz quase nada, a mamã encarregou-se quase de tudo. Mas não quis deixar de dar o meu contributo ao tema natalício cá de casa com esta àrvore de Natal feita de chocolate. Mas aconteceu um fenómeno estranho, com o passar dos dias ela foi ficando cada vez mais depenada. Estranho...
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